Por: Lélis Andrade – Professor de Teatro
Segundo a linguista Cecilia Almeida Salles, a apresentação de um espetáculo não se inicia no ato da sua encenação, mas sim no primeiro encontro de trabalho do grupo. No caso da eletiva de teatro, no primeiro dia de aula da turma. E isso faz muito sentido, se pararmos para pensar que a dramatização de um material cênico é um tecido retalhado pela somatória de contribuição histórica e social feito pelos (as) alunos (as), individualmente e coletivamente, durante todo o percurso. E, em se tratando de um projeto pedagógico, arte-educativo, tal fato possibilita viabilizar uma relação sensível com a criança, em sua dinâmica enquanto educando(a), mas também educador(a). Por fim, o que resultará em um ensino profundamente mais plural e democrático, ao incluir todos os corpos na lógica freiriana: “Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender”.
Ainda debruçado no educador Paulo Freire, “o professor(a) é, naturalmente, um artista, mas ser um artista não significa que ele(a) consiga formar o perfil, possa moldar os(as) alunos(as). O que um(a) educador(a) faz no ensino é tornar possível que os estudantes se tornem ele(a) mesmo(a)”. Nesse sentido, o espetáculo é um amalgamado de experiências compartilhadas em rede pelos(as) educandos(as) durante todo período escolar via o desenvolvimento da sua criatividade, senso-crítico, opinião própria, voz-ativa e maior autonomia no ato livre de pensar, contribuindo para a consciência e expressão corporal. Além disso, tal linguagem influencia o acesso a um maior aprendizado do(a) aluno(a) em outras atividades, disciplinares ou não, em que estiver incluído no recinto escolar. O espetáculo trata disso: uma apresentação todos os dias de aula.
É importante sempre memorar que o teatro pelo teatro não é o suficiente para educar a criança para o desfrute do mais amplo bem viver em sociedade. À vista disso, é de notar que seja significativo a participação conjunta dos familiares ou responsáveis e os elementos que constituí o meio social em que tal sujeito(a) está inserido(a). E como isso ocorre? Ocorre com uma escuta corporal ativa na participação, em estilo primeira fileira, em todas as vivências cênicas do(a) filho(a) que advir em casa, na escola e no viver socialmente de modo geral. Até mesmo porque, segundo o teatrólogo Augusto Boal, Teatro é vida. Acredito que esse seja um caminho bastante frutífero para formação do melhor público.
Desse modo, os experimentos cênicos que ocorreram no final do 1º semestre de 2022, turmas anos finais (EFAF) e ensino médio (EM), na eletiva de teatro, teve como foco possibilitar contribuir na tecitura ampla da trajetória educacional do(a) educando(a), ofertando a esse(a) um autoconhecimento histórico e social de si e, consequentemente, da sociedade no seu entorno. Em conclusão, no teatro, o espetáculo sempre começará antes da própria apresentação, ao passo que é composto pelos corpos que escrevem, com o auxílio das experiências existentes nas matérias da natureza da sua vida, a dramaturgia cênica. Isso é o teatro na escola do Colégio Ser!