Durante o mês de junho, a Biblioteca Machado de Assis – Colégio Ser!, unidade Campolim, recebeu a exposição “O despertar da arte têxtil”, da artista sorocabana Ana Maria Reis. Por meio do entrelaçamento têxtil, Ana Maria utiliza de linhas, lãs, fibras e tecidos em suas composições, tendo por tema o meio ambiente.
Você conhece a arte têxtil?
Ao abordar temas de criação artística convencionais, expandimos para os movimentos têxteis que utilizam linhas, lãs, fibras e tecidos em suas construções. Um suporte artístico pouco utilizado pela história da arte, mas que tem obtido visibilidade e abrangência na arte contemporânea, sendo considerado um campo promissor sobre perspectivas nacionais e internacionais.
A arte têxtil contempla características marcantes na ancestralidade e cultura pelo fazer manual. Sua identificação com a arte contemporânea possibilitou o trabalho com novos materiais, novas técnicas, práticas e estilos ganhando potentes contextos nas artes visuais.
Obras artísticas, com entrelaçamentos de elementos têxteis, são explorados por diversos artistas ao redor do mundo, adequando-se a diversos espaços criativos por sua materialidade proporcionando uma vasta riqueza de cores, formas e texturas.
Confira abaixo detalhes das obras expostas:
ARARA-AZUL
No Brasil, existem vários santuários que protegem as araras-azuis, o maior deles é a Fazenda São Francisco do Perigara, localizada em Barão de Melgaço, Mato Grosso. A área de 25.000 hectares tem 95% destinados aos encontros das araras-azuis. Ao longo dos anos, a região se tornou uma região única no mundo, dezenas de araras-azuis se reúnem todos os dias, ao final da tarde, para repousar.
GARÇA COM LACRE NO BICO
Em 8 de dezembro de 2018, a garça foi vista no Parque Campolim, em Sorocaba, com um lacre de plástico preso no bico, por uma pedagoga que fazia caminhada. Após uma semana tentando capturá-la, os funcionários do zoológico municipal conseguiram resgatá-la e verificaram que estava saudável. A notícia trouxe grandes discussões na imprensa local sobre o descarte correto de material reciclável.
OUTONO
Estação do ano entre o verão e o inverno, caracterizada pelas tardes, cores e lindo pôr do sol. Época mais fria, com nuvens mais altas, do tipo cumulus e cirrus, que influenciam no resultado dos últimos raios de sol. Nesse período do ano, a atmosfera está mais seca, com isso ocorre a queda das folhas, uma estratégia das plantas para se protegerem do frio, reduzindo ao máximo o seu gasto de energia.
CASA NO CAMPO
Inspirada na música “Casa No Campo”, interpretada por Elis Regina, autoria de José Rodrigues Trindade e Luiz Carvalho. Retrata a simplicidade de escolhas: “eu quero uma casa no campo, onde eu possa compor muitos rocks rurais, e tenha somente a certeza, dos amigos do peito e nada mais.”
TUIUIU DO PANTANAL
Ave símbolo do Pantanal mato-grossense (considerada a maior planície inundada do mundo). A ave chega a 1,60 metro de altura e a 3 metros de envergadura, podendo pesar até 8 kg. Considerada a maior ave do Pantanal com capacidade de voar. Alimenta-se de moluscos, répteis, peixes, insetos e pequenos mamíferos. A obra retrata o olhar do Tuiuiu para a queimada de 2020, quando houve o maior incêndio no Pantanal, que resultou em grande impacto para a natureza.
REVOADAS HISTÓRICAS
Revoadas Históricas, obra têxtil, é baseada na Tese “Como uma revoada de Pássaros”: uma história do movimento indígena na ditadura militar brasileira.
Com autoria de João Gabriel da Silva Ascenso e orientação da Professora Larissa Rosa Corrêa, da Puc Rio de Janeiro, foi tese vencedora em História (Prêmio CAPES de Tese 2022).
Ao retratar o “movimento indígena brasileiro” foi necessário investigar o contexto de territórios, de movimentos sociais, de construções de um protagonismo indígena e categorias políticas nos horizontes que discutem e investigam o aumento da ofensiva contra os povos durante a ditadura militar.
A leitura e busca de conhecimentos históricos são relevantes para o entendimento do percurso que o país trava desde seu descobrimento territorial e político até as dinâmicas que ainda se revelam e ecoam nas narrativas atuais.
A obra ‘Revoadas Históricas” utiliza o bordado sobre tecido de algodão estampado para trazer a articulação dos movimentos indígenas com as estratégias de sobrevivência e enfretamento nas participações da política institucional e sobretudo para instigar a leitura e o entendimento que a arte promove ao despertar a consciência humana.
RELAÇÕES PANDÊMICAS
O trabalho à distância é, apenas, uma entre várias mudanças que a pandemia Covid-19 trouxe para nossa vida e rotina. Com o isolamento imposto pela quarentena, as dinâmicas de diversão também foram alteradas. A obra retrata um show musical no terraço do prédio para toda vizinhança. O contato foi mantido pela atitude de vários artistas que se propuseram à distração artística na pandemia.
QUANDO O SOL NASCER
Obra produzida em março de 2020, quando estávamos isolados pela pandemia. Retrata o distanciamento que tínhamos e o nascer do sol, visto por nossas janelas e a certeza que veríamos inúmeros deles, em todos os lugares que pudéssemos estar.
Posteriormente, a obra foi classificada por eventos internacionais de arte têxtil e publicada na 11ª. Exposição Bienal de Beijing (China). Foram selecionadas 300 obras têxteis em todos os continentes, 19 obras na América do Sul e 2 obras do Brasil. A responsabilidade de representar meu país no universo têxtil trouxe a certeza de estar no caminho escolhido.
HISTÓRIA DE UMA GATA
Obra inspirada na música de Chico Buarque e muito reconhecida na voz de Nara Leão. Retrata a retórica de uma gata que não quer ficar trancada no apartamento.
“Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora ou senhorio
Felino, não reconhecerás”
A LUA (RELEITURA TARSILA DO AMARAL)
Tarsila do Amaral pintou o quadro “A Lua” em 1928. A obra pertence à fase antropofágica da artista, quando pintava obras com teor onírico. Alguns críticos classificam essas pinturas na escola surrealista.
MICÉLIO
Micélio é um fungo que se expande no subsolo, criando uma rede de conexão entre todas as espécies de plantas. Quando uma árvore da floresta é cortada, o micélio comunica às demais árvores que uma delas está a morrer e todas as outras árvores começam a cuidar do tronco remanescente para tentar salvar aquela vida. Aprendemos a nos reconhecer, através dessa linguagem, com a Mãe Terra.
Saiba mais sobre a artista:
Ana Maria Reis, reside em Sorocaba e, por meio de técnicas têxteis diversificadas, trabalhadas diretamente sobre tecidos e texturas, agrega a ancestralidade do bordado, crochê, macramê, tricô, quilt entre outras, em suas obras. Atua como pesquisadora e expositora nos questionamentos de natureza, de espaço e de cultura com temas relacionados aos valores históricos por acreditar na relevância da arte têxtil e comportamentos humanos com visão de singularidade e disciplina.