Por: Giselle Cherutti – Professora, Bióloga (PUCSP) e Mestre em Biomateriais (Unicamp).

E: Nathalie Lousan – Professora, Bióloga (PUCSP), Mestre em Educação e Saúde (PUCSP) e Doutoranda em Metodologias Ativas de Aprendizagem (Unifesp).

No dia 29 de Dezembro de 2019, quatro casos, com os mesmo sintomas de pneumonia grave, deram entrada no hospital de Wuhan na China. O que eles tinham em comum? Todos trabalhavam na feira de pescados, onde eram vendidos todos os tipos de animais, incluindo os silvestres. Ao realizarem exames, os quatro casos apresentaram testes negativos para problemas respiratórios comuns como a gripe, preocupando os agentes de saúde. Estes casos iniciais levaram a descoberta de um novo tipo de Coronavírus, o Covid-2019 ou SARS-CoV-2, que até o dia 26 de janeiro de 2020, já havia registrado 2 mil casos da doença em 30 províncias chinesas e 47 casos em 14 países próximos.

E foi assim que tudo começou…

Tudo indica que o paciente zero entrou em contato com um animal silvestre chamado de Pangolim e esse teria sido o responsável pela transmissão do vírus.

Mas esse vírus, o Coronavírus, já é conhecido entre os cientistas há bastante tempo. Não é de agora que ele infecta tanto animais como seres humanos.

Você sabia que a origem do nome Coronavírus vem da presença de estruturas chamadas espículas que ficam ao redor do vírus? Essas espículas formam uma espécie de coroa e daí o nome Coronavírus. Ele também tem uma família, a Coronavidae, sendo que 7 espécies presentes nesta família podem infectar seres humanos, o restante somente outros animais. Quando entra em contato com o ser vivo, o vírus desta família pode levar a sintomas como os de uma gripe leve até uma pneumonia grave, dependendo das condições do organismo. A primeira espécie de Covid que infecta seres humanos foi descoberta pelos cientistas na década de 60 e de lá para cá, as descobertas aumentavam cada vez que uma nova espécie desta família começava a infectar humanos.

Você já ouviu falar da SARS? Esta sigla significa Síndrome Respiratória Aguda Grave e acometeu mais ou menos 8.000 pessoas na China em 2002. Sabe qual foi o agente infectante responsável por esta doença? Um tipo de Coronavírus, chamado de SARS-CoV (em que o “CoV” representa Coronavírus).

Além do SARS, existem outros exemplos de Covid’s descobertos por meio de infecções aos seres humanos, como a MERS – Síndrome Respiratória do Oriente Médio, que também acometeu muitas pessoas por lá.

Por que esses pacientes zeros sempre estão em locais como a China, o Oriente Médio ou a África? Simples, por duas razões: primeira, uma enorme aglomeração de pessoas, o que contribui para um contágio muito acelerado. Segundo, convívio ou alimentação baseada em animais biologicamente muito próximos aos seres humanos, o que favorece a adaptação viral.

Mas qual a diferença entre vírus e bactérias, sendo que ambos estão no ambiente e podem contaminar o ser humano? Ambos são invisíveis a olho nu e podem causar doenças, mas biologicamente falando são muito diferentes!

Bactérias são consideradas seres vivos, pois possuem as características básicas para essa classificação, com por exemplo, serem formadas por células que possuem tudo o que elas precisam para sobreviver. Outra informação importante é que nem todas as bactérias são prejudiciais a nossa saúde, algumas, na verdade, são muito importantes para o nosso corpo, como aquelas encontradas em nosso intestino e que auxiliam nos processos digestivos.

Já os vírus são formados por uma cápsula em torno de um material genético (DNA ou RNA) e algumas proteínas, ou seja, não possuem células! E por essa razão, nem são considerados seres vivos por muitos cientistas. Sendo assim, para se reproduzirem precisam invadir uma célula viva, por isso são conhecidos como partículas infecciosas. Essa característica dos vírus também dificulta o desenvolvimento de vacinas e remédios para doenças causadas por eles, pois é necessário descobrir uma maneira de impedir sua reprodução e aumento dessas partículas nas células, e, consequentemente, no organismo, tais medicamento são conhecidos como antivirais.

E os antibióticos, podem ser utilizados no combate aos vírus? Antibióticos são medicamentos utilizados contra infecções bacterianas, pois agem apenas em bactérias, sem atacar as células do nosso organismo. Mesmo assim muitos médicos prescrevem antibióticos também contra viroses, pois estas deixam o sistema imunológico debilitado favorecendo o ataque de bactérias, então, tais medicamentos são prescritos para prevenir esse ataque.  Sendo assim, no caso do Covid-19, ainda estão sendo desenvolvidas vacinas e medicamentos para auxiliar em seu combate, e por isso, ainda estamos vivenciando o que os cientistas chamam de pandemia.

O que é uma Pandemia?

Já parou para pensar, que na história da humanidade o início das civilizações trouxe consigo a aglomeração de pessoas? Pois, antes destas civilizações, aparecerem os humanos, que andavam somente em pequenos grupos e eram, em sua maioria, nômades. Sendo assim, as grandes civilizações dentre todas as suas vantagens também trouxe a facilidade na transmissão de infecções de maneira muito mais rápida.

Veja o exemplo da Gripe Espanhola (1918), que matou por volta de 50 milhões de pessoas no mundo todo; mais pessoas que a própria primeira guerra mundial que acontecia na mesma época. O assustador número de casos também se deve à falta de profissionais da saúde, uma vez que eles, em sua maioria, também adoeceram.  Mas, naquela época, havia menos informações e menos tecnologia. Hoje, com o Covid, a história é um pouco diferente, pois temos como nos comunicarmos com o mundo todo de maneira muito mais rápida e tecnologias que contribuem de maneira mais eficiente.

Pensando neste exemplo, da Gripe Espanhola, o que houve foi o que chamamos de pandemia. Segundo os cientistas, podemos estabelecer os seguintes critérios que determinam o grau de infecção de um agente, seja ele viral, bacteriano ou parasitário:

Surto: Quando há um aumento repentino no número de casos de uma doença em uma determinada região (como um bairro ou uma cidade, por exemplo).

Epidemia: Quando um surto acontece em diversas regiões (vários bairros de um município ou várias cidades de um país, por exemplo).

Pandemia: Quando uma epidemia se espalha por diferentes regiões do planeta.

Quais as informações mais importantes sobre Covid-2019?

O primeiro ponto é o método de transmissão do vírus. Quando uma pessoa está com o vírus em seu organismo – mesmo sem manifestar a doença de modo significativo – ao espirrar, gotículas de secreção com o vírus ficam contidas nas partículas de água presentes no ar, contaminando assim o ambiente. Além disso, toda e qualquer superfície que entrar em contado com o vírus, seja por partículas infectadas do ar ou por pessoas doentes, também estará contaminada. O período de incubação viral, ou seja, o tempo necessário para o início de seu desenvolvimento nas células humanas é de aproximadamente 5 a 10 dias, e por essa razão, a transmissão é muito rápida.

O segundo ponto são os sintomas da doença. Pode ser desde parecidos com o de uma gripe forte a um caso grave de pneumonia, sendo os principais sintomas a tosse seca, falta de ar, febre, problemas no pulmão e diarreia forte. A cada 100 pessoas com o vírus, 20 apresentam casos graves e precisam ser internadas. Os idosos representam a faixa etária de maior número de óbitos nos casos desta doença, devido principalmente a complicações cardíacas e respiratórias pré-existentes, diabetes, entre outros.

O terceiro ponto são os principais cuidados ou métodos preventivos. Lavar as mãos com água e sabão e usar álcool em gel no mínimo de 70% várias vezes ao dia, sempre que sair ou entrar em algum lugar, mesmo que seja em sua casa. Além disso, usar máscaras sempre que apresentar algum sintoma, por menor que seja, quando houver a necessidade de se deslocar de um lugar para outro; e por fim, o isolamento, mantendo-se sempre que possível em casa, para diminuir as chances de contágio e propagação do vírus.

Se você tem se atentado às medidas preventivas e sempre que possível mantém seu isolamento, não há com o que se preocupar. Manter a calma também faz parte e é de grande auxílio para que possamos passar por mais este momento da história da civilização humana. Na verdade, o pânico, além de não contribuir com nenhuma melhora, ele atrapalha, principalmente nos casos de pessoas que insistem em buscar auxílio médico sem ter certeza absoluta de seus sintomas. Precisamos que os profissionais da saúde estejam todos focados em cuidar daqueles que realmente estão doentes, sem precisar se preocupar com aqueles que em pânico buscam atendimento hospitalar, muitas vezes sem necessidade ou gravidade. Existem muitas informações confiáveis disponíveis na internet e aplicativos que auxiliam na identificação dos sintomas do Coronavírus, como o do SUS. E, caso os sintomas sejam coerentes com a doença busque o hospital mais próximo o quanto antes.

O importante é lembrarmos que em todos os momentos marcantes da história da humanidade os obstáculos superados sempre vieram através da união do ser humano e, principalmente, pela compaixão com os seus semelhantes.

Algumas informações deste texto tiveram o apoio de profissionais da saúde anônimos que lutam diariamente contra o Covid-2019 e do canal de Atila Iamarino