A despeito da etimologia da palavra latina República significar “coisa pública”, no Brasil, a proclamação da primeira República, foi fruto de um acordo entre setores poderosos da sociedade: e elite agrária civil e os militares positivistas. A elite agrária advogava a República, mas temia perder seus tradicionais privilégios agrários e políticos. Por outro lado, o exército, munido de ideais positivistas de aguda crítica política racionalista defendia a República militar, consubstanciada no projeto de uma ditadura militar, apoiada na ideia da ordem como caminho para o progresso. Como visto, nem o projeto civil e nem o militar contemplava a participação popular no novo sistema político.

Louis Couty, um pensador francês residente no Brasil, ao produzir uma análise sócio-política do nosso país, disse que o “Brasil não tem povo”. Na visão desse filho da Revolução Francesa, a ausência das classes populares no processo republicano era no mínimo paradoxal.

Por meio de um texto escrito ao jornal Diário de São Paulo, Aristides Lobo, o propagandista da República, também manifestou seu desalento em relação a forma como o 15 de novembro de 1889 foi executado. Para ele, o ideário popular e democrático do novo Regime (República) foi violado, posto que o povo, o qual deveria ser o protagonista do fato, parece ter assistido a tudo “bestializado”, sem compreender o que, de fato, estava acontecendo.

 O povo brasileiro parece assistir às transformações políticas e sociais como um espectador ou, no máximo, como figurante, afirmou o historiador José Murilo de Carvalho.

Numa publicação de 1881, o jornal “Revolução”, conclamava o povo a empunhar “o estandarte da liberdade — a bandeira da República — no meio da praça pública, ao som da Marselhesa, proclamando a soberania popular”. No jornal Echo Popular de 1890: “A palavra — República — foi por muito tempo o símbolo exclusivo das aspirações democráticas, e o grito — viva a República — tem um longo passado de sedição e irrompe naturalmente do povo quando ele se reúne para deliberar”. Passado o momento inicial de euforia e de esperanças democráticas, nossa primeira República firmou-se na exclusão eleitoral da maioria da sociedade brasileira, não possibilitando também a participação da população nas instâncias governamentais.  A primeira Constituição Republicana, promulgada no ano de 1891, foi liberal e oligárquica, uma vez que adotou ideais liberais, mas de práticas que possibilitavam a manipulação eleitoral (voto de cabresto) e da elitização da política. Prova disso foi o sistema eleitoral, baseado no voto aberto e universal, o qual excluía mulheres e analfabetos, isto é, a maioria da população brasileira. O historiador José Murilo de Carvalho relata que na primeira eleição à presidência da era republicana menos de 1,5% da população votou, sendo que o número de eleitores brasileiros durante o período mencionado nunca ultrapassou a casa de 3,5%. Nesse sentido, o pretenso avanço liberal republicano não representou ampliação na igualdade civil, democrática e política.

Em consonância com o exposto nesta breve leitura histórica, é mister que façamos de nossa República um espaço cada vez mais democrático e popular, no qual a participação cidadã possa expressar de fato a verdadeira natureza republicana, a saber, o bem comum.

Por: Professor José Eduardo Nunes