Por: Izabel – Pré-vestubular
João Pedro, 14 anos. Vítima de bala perdida. Disparo de fuzil na barriga. Caso recente, de 2020, que chocou os brasileiros com tamanha brutalidade. João foi apenas mais um dentre tantas crianças e adolescentes bombardeados diariamente com inseguranças e medos inerentes a uma sociedade desigual e racista.
No Brasil, a grande maioria dos jovens assassinados e dos que entram para o mundo do tráfico de drogas possuem baixa escolaridade, muitos sequer completam o ensino fundamental. Sem uma base pedagógica de qualidade, não há espaço para eles no mercado de trabalho formal. Portanto, optam por outros meios de sustentar a si e sua família, em empregos cujo salário é ínfimo ou em serviços ilegais como o tráfico. E assim o ciclo de pobreza se perpetua ao longo de tantas e tantas gerações. São raros os casos nos quais o indivíduo consegue superar as barreiras da desigualdade e conquistar melhores condições de vida, além de que esses geralmente dependem de auxílios de terceiros para garanti-las, como no caso das cotas universitárias. Infelizmente, a lei do determinismo social impera sobre os sonhos de cada criança refém de sua própria condição financeira, fazendo com que os grupos marginalizados sejam sempre as vítimas da vulnerabilidade social.
Outro traço comum à maior parte dos alvos dos homicídios de crianças e adolescentes no Brasil é a cor da pele. Os negros são os que mais sofrem com essa realidade. O assassinato de vítimas com esse perfil faz parte da necropolítica do governo atual, visivelmente fundamentada no racismo, velho conhecido do Brasil desde seu descobrimento. Não há outra saída para o massacre de jovens pretos: o foco da segurança pública deve ser redirecionada para a investigação de cada caso em particular, fazendo valer a prerrogativa de que “todos são inocentes até que se prove o contrário”, e não para a repressão violenta da polícia sobre garotos e garotas da periferia.
Todos os dias, a vulnerabilidade social dos jovens, especialmente a dos de origem humilde, se faz presente de alguma forma. Embora avanços significativos na assistência a esses pequenos tenham sido feitos, como a criação do ECA por exemplo, ainda há muitos problemas que precisam ter maior repercussão em todas as camadas da sociedade. Agressões por parte dos pais ou da polícia, assédio, abuso sexual, disparidade nas oportunidades de educação e de trabalho, e tantas outras formas de violência desmancham a ilusão de milhares de jovens por um futuro melhor, e interrompem inúmeras vidas – uma a cada 23 minutos. E assim vão se banalizando as jovens vidas perdidas, até que se tornem apenas números.
Sem nomes, sem família, sem casa, sem futuro. Apenas números.