Por: Rosa Barreiros – Coordenadora Educacional
Já era tempo de mudança e a BNCC do Ensino Médio definiu que um Novo Ensino Médio precisava atender aos anseios das juventudes brasileiras. Em resolução publicada, no Diário Oficial da União, em 21 de novembro de 2018, o Ministério da Educação tornou o documento lei. Segundo Anna Penido, uma das mais importantes especialistas em educação, tendo participado das discussões, pelo país, a favor da mudança, “a escola precisa dar segurança, rumo aos jovens (às juventudes), para serem agentes e cidadãos participativos. E o aluno tem o direito de escolher o seu percurso.”
O currículo do Ensino Médio, hoje, é composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
I – linguagens e suas tecnologias;
II – matemática e suas tecnologias;
III – ciências da natureza e suas tecnologias;
IV – ciências humanas e sociais aplicadas;
V – formação técnica e profissional (LDB, Art. 36; ênfases adicionadas).
“Segundo Anna Penido, uma das mais importantes especialistas em educação, tendo participado das discussões, pelo país, a favor da mudança, ‘a escola precisa dar segurança, rumo aos jovens (às juventudes), para serem agentes e cidadãos participativos. E o aluno tem o direito de escolher o seu percurso’.”
Em nosso podcast – o PodSer!, Anna Penido explicita, bem, a necessidade da mudança. Ouça:
Reconhecidas pela equipe de professores do Ensino Médio do Colégio Ser!, as mudanças começaram a aparecer durante as noites de formação, em que se reunia um grupo curioso e atento às atualidades sobre a educação do século XXI.
Em 2021, as mudanças implementadas, a partir da 1ª série do Ensino Médio, incluíram a formatação dos “trekkings”, do “campo base” e das “trilhas”. As metáforas aludem ao percurso que um caminhante faz para chegar ao “livro do cume”. Ou seja, qual é seu caminho e como ele pode traçá-lo, de acordo com seu Projeto de Vida?
Segundo o Professor Cristiano Leon Martins, que está à frente do “trekking” Comunicação e Mídias Digitais, “as aulas do Itinerário Formativo – os ‘trekkings’ — são completamente diferentes, atendendo às mudanças propostas para o Novo Ensino Médio. Os alunos são protagonistas e o professor, apenas, propõe as atividades, medeia as discussões e orienta-os nos projetos, promovendo inferências quando necessário.” Para a Professora Nathalie Lousan, do ‘trekking’ Imunologia e Saúde Pública, “a principal característica foi dar mais autonomia aos alunos, permitir que eles escolham e trilhem seus próprios caminhos. E, como professora, sair do ‘centro das atenções’ para orientar esse caminhar de cada aluno. Ainda acho muito cedo para sentir a aprendizagem mútua, embora acredite nela.” Já para o Professor Pedro Lucas Correa, de Gestão Financeira e o Jovem Investidor, “esses fatos fazem com que haja uma aprendizagem mútua, não tendo aquele viés de que o professor é o detentor do conhecimento.”
Para a Professora Danieli Francine Ferreira, à frente da “trilha” Linguagens e Comunicação, “com relação aos alunos, é perceptível uma certa resistência (mais atrelada a medo e à desconfiança, acredito) em participar. O desafio é ficar constantemente demandando a participação daqueles que se ‘encolhem’ e se escondem. Há alunos que são, de fato, muito participativos, chegando a construir toda a aula sozinhos. Contudo, urge a participação de todos e fazer o aluno mais tímido participar é desafiador.` Com exercícios de expressão ampliados, com participação e maior engajamento nos projetos e nos trabalhos propostos, ele poderá mais facilmente ter uma leitura de mundo muito mais holística, ter a percepção mais aguçada, além de ter o desenvolvimento de suas relações interpessoais e de seu autoconhecimento muito mais elaborado e funcional. Por meio dessa nova prática, é mais provável termos menos ‘cidadãos de papel’ e mais ‘cidadãos de fato’.”
Ou seja, como em toda reforma, o percurso implica em mudança de mentalidade, do professor para o aluno e do aluno para o professor. O desenvolvimento da autonomia e da percepção de que é possível ser autor e não espectador, assim como outras habilidades, precisa ser desenvolvida. É o que analisa o Professor José Eduardo Xavier, que, hoje, está à frente das “trilhas” de aprofundamento em Ciências Aplicadas: “As características que demandaram maior estudo e aprimoramento estão ligadas ao comportamento dos alunos. Comportamento esse com raízes no ensino tradicional, quando o aluno tinha o papel de ouvinte. Então, torná-los protagonistas do próprio aprendizado e dos conteúdos relevantes para sua formação, não estava em seus planos. Mas, está sendo bom promover a quebra desse paradigma.”
“Ainda, segundo a professora Nathalie, ‘desenvolver autonomia, resiliência, poder escolher qual caminho trilhar e de que forma, aproximando ainda mais a vida escolar da vida do lado de fora da escola, afinal, é tudo uma coisa só!’ “
Ainda, segundo a professora Nathalie, “desenvolver autonomia, resiliência, poder escolher qual caminho trilhar e de que forma, aproximando ainda mais a vida escolar da vida do lado de fora da escola, afinal, é tudo uma coisa só!” A BNCC deixa claro que o aluno deva ser protagonista de sua aprendizagem e, para isso, a escola também deve prever o apoio ao estudante, no desenho de seu Projeto de Vida. Ulisses de Araújo, Valéria Arantes e Viviane Pinheiro, professores da Universidade de São Paulo, em sua obra Projetos de Vida Fundamentos psicológicos, éticos e práticas educacionais entendem “que construir um projeto de vida requer que os jovens estudantes conheçam a si mesmos e ao universo que os rodeia para que consigam identificar as necessidades, os problemas e os conflitos presentes em seu contexto. Ao mesmo tempo, quando esses jovens analisam as possibilidades de atuação na realidade, ganham condições de formular metas de longo prazo que possam fazer diferença.” É o que entende, também, o Professor Cícero Inácio dos Santos, à frente do “trekking” Gestão financeira e o jovem investidor, que afirma ser sobre o “desenvolvimento de habilidades de escolha e trabalhar com novos conhecimentos atrelados ao seu projeto de vida.”
Como se pode observar, as mudanças propostas para o Novo Ensino Médio, vem ao encontro de demandas, até então, reprimidas. O Professor José Eduardo de Sanctis Nunes, de Empreendedorismo e Mundo do Trabalho, analisa da seguinte maneira: “Acreditando nas propostas da nova BNCC, vejo benefícios significativos na formação crítica e ética, no desenvolvimento socioemocional e nos avanços de uma educação integral e mais adequada às demandas do mundo moderno.” Similar é o pensamento do Coordenador de Esportes e Professor Jefferson Paixão, do “trekking” Comunicação e Mídias Digitais, para quem “os projetos permitem criar situações em que é solicitado aos alunos um pensar diferente, mais dinâmico, proativo e criativo.” É, também, o que pensa o Professor Rogerio Antonio Nezzi Lagreca: “A possibilidade de desenvolver a autonomia intelectual.”
A escola mudou, porque a sociedade também foi se alterando. Ainda assim, ser um professor contemporâneo é, não menos, como aquele preconizado por Georges Gusdorf, que, aludindo ao parodoxo do ensino, do Mênon, conclui que nada de fora enriquece a inteligência, que descobre por si mesma as relações constitutivas de uma teoria. Desta forma, cabe aos processos modernos entender a importância que a relação aluno-professor-aluno tem, na condução das aprendizagens, que, se bem conduzidas, são capazes de encaminhar a juventude, em seu Projeto de Vida.