Por: Professor de Artes Betu Cury
O café da manhã não calculo que seja reforçado.
Garotos e garotas acordam apressados e chegam aqui no Colégio esbaforidos.
A maioria já procura algum colega, ou amigo que seja.
Em pé, ou já sentados, a mochila esparramada no chão e o agasalho roçando o cimento queimado, anunciam o movimento próprio da juventude.
Ainda há muito o que aprendermos.
Alguns chegaram bem cedo, outros no momento exato de fecharmos a porta da sala.
Importante mesmo é que todos estão dispostos.
Dispostos em suas carteiras-mesas de acordo com um mapa, ou por suas próprias vontades e afinidades.
Tudo a depender das relações que juntos vamos alinhavando e costurando.
As imagens já estão prontas e apresentadas em slides.
Página a página da apostila que contém oito capítulos para o ano.
Cada slide foi montado com filmes curtos e fotografias com o pano de fundo sendo a foto das páginas abertas em duplicidade.
Eu, maestro, uso a voz.
Essa forte e empostada.
O nono ano mergulha na Arte Moderna e Contemporânea.
Aquele tipo de resultado onde a maioria dos seres viventes pergunta:
Mas isso é Arte?
Com certeza você que lê já imaginou, ou seja, fez na sua cabeça a imagem, a cena, o jeito da coisa.
Porém, há que considerarmos que aprendemos nas relações, no contato e justamente o mote do ano inteiro é a possibilidade do espectador, do observador, do contemplador, tocar as obras, interagir com elas, penetrar em suas formas literalmente.
O teatro, a dança e a música são também contemplados nesse estudo e também essas Linguagens da Arte, são manifestações de Vanguarda, expressões do novo, do inusitado. Quando estudadas no nono ano o meu desejo como maestro é que cada um dos instrumentos, ou seja, cada aluno e aluna, façam a sua análise e sua crítica para que possam compreender que mais do que o resultado de cada tarefa, o importante é o caminho que cada um usou para atingir o objeto proposto.
Esse caminho é chamado de processo.
Claro que eu como maestro tenho a noção de que pessoas de quatorze anos ainda precisam de ferramentas objetivas para entenderem esse complexo mecanismo.
Dessa forma, o caminho é realmente construirmos e fazermos juntos.
Quando no capítulo da EcoArte saímos todos para procurarmos no espaço do Colégio uma única folha que estivesse caída no chão, eles já sabiam que haveriam de desenhar – expressar através de linhas e formas – algo onde a folha fosse um elemento da composição, que ela participasse da cena desenhada.
Assim foi feito e, individualmente, as imagens foram surgindo e se perpetuaram nas folhas de papel.
Imaginem:
Nenhum dos resultados obtidos havia antes em nenhum lugar do Mundo.
O Mundo passou a conhecer, mesmo que seja no Mundo daquela sala de aula, cada uma das imagens por eles criadas.
Disse o moderno Paul Klee:
“Eu não represento o visível, eu torno visível “.
Cada um deles tornou o antes inimaginável, imagem em ação.
Ouvimos o sinal e nos preparamos para deixar a sala de aula, indo para um intervalo, ou indo de volta pra casa.
O sinal é claro.
Saímos todos como Einstein já preconizava.
Uma mente maior do que aquela que deixamos no café da manhã.
Uma mente que não nos deixa mentir.
Mais um passo no passo a passo de quem desejamos ser nesse pós moderno canto.
Na contemporaneidade dos nossos dias, cada criança ou adolescente deve ter essa oportunidade de ir além do que as máquinas oferecem de forma pronta.
Pronto falei.
Que além da fala todos nós possamos professar carinho e afeto, lógica e emoção.
Hoje, eu esperei ao lado da porta de vidro e vários alunos ao oferecerem a mão para um toque, passaram do meu lado com educação clássica e me disseram modernamente:
“Gratos pela aula, Professor!”