Por: Vania Mello, que é arte-educadora, pedagoga Waldorf, arteterapeuta junguiana e coordenadora do Ateliê Artístico Jardim de Amarílis.
A Educação Infantil do Colégio Ser! tem o privilégio de ter um ateliê de artes, o “Jardim de Amarílis”, por entender o valor da experiência artística/estética na formação e desenvolvimento da primeira infância e o quanto a sua qualidade pode contribuir, inclusive, na estruturação cerebral, ajudando a construir mais circuitos neurais.
A criança, na Educação Infantil, está em um momento muito especial de seu desenvolvimento. Ela está descobrindo o mundo e o apreende através dos sentidos. A vontade da descoberta pulsa por todo seu corpo. Trabalhar com arte, na educação infantil, é explorar possibilidades. É constantemente criar oportunidades de enriquecer a imaginação através da experiência estética, despertando interesses, exercitando habilidades, sensibilizando o aparato sensorial, emocional e intelectual da criança.
Estética é um ramo da Filosofia que estuda o belo e os sentimentos que ele suscita nos seres humanos. Surge como ciência com Platão, na Grécia antiga. Experiência estética é uma vivência profunda de percepção. Há coisas que não são unanimemente bonitas, mas que são belas porque nos tocam de alguma maneira e ao nos tocar, nos forma e nos transforma. Não se trata da beleza do objeto, mas sim do sujeito em sua relação com o objeto. É, portanto, no meio do caminho entre sujeito e objeto que se dá o fenômeno estético, a experiência do belo – que é subjetiva e particular.
É importante propiciar experiências relevantes, aproveitando o momento da infância, que é quando estamos mais abertos, curiosos e dispostos para descobrir o encantamento do cotidiano, desvendar mistérios e conhecer o novo.
É necessário compreender a arte na educação não como um repertório de técnicas ou com a pretensão de criar um futuro repleto de artistas, mas sim como projeto de fomentar um mundo repleto de pessoas com a habilidade de sentir. Não apenas fazer, solucionar ou empreender, mas sentir. A educação pela arte está profundamente ligada a um tipo de indivíduo capaz de mergulhar em si mesmo, o que traz vitalidade e entusiasmo.
Somos um todo indivisível. Quando levamos em conta todas as nossas esferas – inclusive a dos sentimentos – temos ambiente mais propício para nosso desenvolvimento, não só emocional e cognitivo, mas completo.
Através desta maior atenção do indivíduo, ao seu próprio sentimento, reelaboram-se, também, os processos racionais. É o chamado conhecimento significativo, sem o qual, sabemos, a criança pouco aprende. A aprendizagem só acontece de fato quando a emoção caminha junto.
Portanto, investir em uma educação estética potencializa não apenas os processos ligados aos sentimentos, mas também os processos do conhecimento objetivo, ambos intrinsecamente ligados.
Entender a educação como um todo através de um prisma estético e lúdico torna mais abrangente todo o processo de construção do conhecimento, propiciando um desenvolvimento integral à criança. Ainda que o foco deste texto não seja o brincar, vale ressaltar a similaridade da relação da criança com o brincar e da criança com a arte, compreendendo que ambas são atividades criadoras e, portanto, combinatórias. Estão profundamente calcadas em suas vivências anteriores, ainda que as transcendam. Dessa forma, é fácil concluir que, quanto maior o repertório de experiências da criança, maior será sua capacidade de criação nessas duas esferas.
Deste modo, a experiência estética, ainda que um fim em si mesma, tem como fruto a atividade criadora. Daí sua fundamental importância na infância – além de canal para a compreensão de sentimentos e adaptação da cultura de seu grupo social, a experiência estética é atividade primordial do repertório da criança, favorecendo o desenvolvimento de suas potências e a exploração e apropriação de suas múltiplas linguagens.
Sendo assim, tudo que acontece na educação infantil deve gravitar em torno do lúdico. A arte, especialmente, já que, analogamente ao brincar, ela é para a criança seu meio de expressão, ressignificação e elaboração de vivências.
“Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.(…) A experiência da beleza tem de vir antes.” Rubem Alves – educador e escritor