Ateliê “Aprendi com a História” – Anna, Laura e Maria Clara – 7.º Primavera
“Antropocentrismo”
O Antropocentrismo tem sua origem nas palavras gregas “anthropos”, que significa “humano”, e “kentron”, que se traduz como “homem no centro”. O Antropocentrismo surge como antítese ao Teocentrismo, doutrina que considera Deus o centro de tudo. O conceito antropocêntrico acentua o homem como um ser dotado de capacidade e inteligência. Isto é, o homem está, portanto, apto a realizar suas ações como um indivíduo livre.
Em outros termos, pode-se dizer que o antropocentrismo é uma ciência ou doutrina filosófica centralizada no homem. Para o antropocentrismo, o ser humano representa o eixo, sendo, nestas instâncias, responsável pelos seus atos. Tais ações podem ser históricas, sociais, culturais ou filosóficas. Desse modo, a doutrina coloca o homem como a referência primordial para a compreensão de mundo.
Origem do antropocentrismo
O antropocentrismo está visceralmente relacionado à ascensão dos burgos, isto é, da burguesia. A burguesia, como classe social de “novos ricos”, queria expressar seu mais novo status social. Na mesma linha, havia os nobres, que não se privavam ao desejo de demonstrar a vastidão de sua riqueza. Como consequência, houve nesta instância um crescimento intenso e significativo no financiamento e consumo de obras artísticas.
No centro destas, prevaleciam as obras que retratavam a individualidade do homem e seus característicos traços psicológicos. As pinturas do divino ainda tinham espaço nas artes, mas de maneira renovada ao que foi visto anteriormente.
Essa bifurcação marca um contato, criação e interpretação mais emancipada no que tange às áreas de conhecimento. Clássicos, originais e antigos, eram retomados com uma nova leitura, essa mais autônoma e menos ligada às previamente observadas. Essa reinterpretação ganhou maior propagação com a invenção de Gutenberg, em torno de 1439: a invenção da imprensa.
O papel da imprensa na ascensão antropocêntrica
A criação da imprensa foi fator decisivo para a popularização de um conhecimento democrático e disseminado. Esse veículo de informação, mais rápido do que qualquer outro, contribuiu favoravelmente à divulgação de ideias progressistas e inovadoras. Isso resultou em benefícios mais do que simbólicos para a Revolução Científica, a Reforma Protestante, a Renascença e a edificação da Modernidade.
De acordo com alguns especialistas, as grandiosas navegações também veriam inspirações no antropocentrismo. A difusão do conceito teria influenciado a intensificação a partir da visão recauchutada que o homem como indivíduo do mundo.
Os horizontes foram expandidos com a compreensão das regulações responsáveis por reger a natureza. Esse novo saber tende a aumentar o comércio e incentivar o intercâmbio e mercado com diferentes culturas. Ou seja, o homem passa a se enxergar como um sujeito propenso às mudanças e autorrealizações de cunho antropocêntrico.
Esse novo olhar consiste em autodescobertas, celebrações da imaginação e encontros com fontes íntimas e inesgotáveis de inspiração. Assim, o homem reconhece em si um estoque de conhecimentos, tornando a si e a natureza o eixo das suas questões.
É importante ressaltar que isso leva a uma contestação no teocentrismo, levando a uma concepção empírica voltada para a razão. Isso significa que o homem passa a ler o mundo por intermédio da experimentação, desfazendo-se de antigas rédeas religiosas.
Agora, o homem volta-se para aquilo que conta com o domínio de esclarecer a realidade, distanciando-se dos fundamentos medievais. As crenças e doutrinas religiosas ganham um segundo plano, abrindo novos caminhos para a humanidade.
Diferenças fundamentais do antropocentrismo e teocentrismo
Na contramão ao Antropocentrismo, está o Teocentrismo, que considera Deus como o eixo central do mundo. A doutrina teocentrista obedece à religião, pregando que o mundo é controlado pelos comandos de Deus.
O teocentrismo foi uma doutrina muito popular durante o período medieval, onde a religião era soberana sobre a população. Partindo deste ponto de absolutismo divino, o teocentrismo não admite hipóteses ou contestações científicas.
É durante o humanismo renascentista que o domínio teocentrista passa a ser transformado. Nesta altura, a Europa está acima de uma esteira de avanços e progressos. Os séculos XV e XVI trouxeram com eles a reforma protestante, a queda do feudalismo, o cientificismo, a aparição da burguesia, as grandes navegações, etc. É no meio dessa efervescência que o conceito do antropocentrismo desponta como uma resposta erudita. Dessa maneira, filósofos e artistas trazem a medida à tona no intuito de dar destaque aos ideais empíricos do cientificismo.
Esse movimento traz consigo uma quebra de paradigmas e uma metanoia na mentalidade calcada nos últimos séculos. Como resultado dessa mudança, surge um homem crítico, racional e indagador para com a realidade que habita. Nesse processo, o homem “pensante” se coloca no controle e assume a responsabilidade de seus pensamentos e atos pelo mundo.
Sendo assim, é possível dizer que o antropocentrismo simbolizou o curso do feudalismo para o capitalismo mercantil. De outro modo, o antropocentrismo ainda marcou a passagem da Idade Média para a Idade Moderna.
Vários foram os campos de conhecimento que adotaram a nova concepção de mundo antropocêntrica. A pauta na natureza, ser humano e sociedade foi cultivada por artistas (pintores, escritores, músicos, escultores, etc) tal como por filósofos.
Foi também nesse período que os humanistas introduziram a inclusão de algumas disciplinas importantes para a difusão do antropocentrismo. Entre elas, colaboraram para a nova mentalidade as matérias de literatura, ciência, línguas, filosofia e artes.
É de suma importância destacar que a figura de Deus não foi suprimida completamente pelo antropocentrismo. As concepções divinas permaneceram presentes na vida dos cidadãos da época. Entretanto, a palavra da bíblia perdeu seu status incontestável e exclusivo, dando espaço para novas formas e liberdades de pensar.
Nesse contexto, encontramos um senso de verdade intimamente ligado à razão, isto é, ao raciocínio humano. A razão, dentro do antropocentrismo, seria designada a um dom oferecido pelo Senhor. Em outras palavras, uma dádiva divina, legítima e valorosa, que deveria ser aproveitada como tal. Afinal, ela representava um dos poderes dos homens como indivíduos à imagem e semelhança de Deus.
O impulso de independência do homem em relação ao divino foi a mola propulsora para a criação, reflexão, difusão e produção do conhecimento. Foi através dessa autonomia, do homem no centro, que importantes passos científicos foram dados pela humanidade. O antropocentrismo representa, de tal maneira, um livre pensamento, sendo crucial para a evolução da sociedade como conhecemos hoje.